A Beleza Importa

A Beleza Importa

Pode parecer um truísmo mas nos dias que correm é cada vez mais imperativo revisitar as verdades banais, dizer aquilo que observamos no mundo sem pudores para que a verdade se encarregue de ordenar aquilo que precisa de ser ordenado. Enquanto permanecemos em silêncio deixamos que o ruído vença à música, que o bem e o mal se misturem numa espécie de miasma mudando convenientemente de forma consoante as circunstâncias relevantes para o espírito do tempo. Assim não temos o absoluto, é o fim da convicção e o tempo da igualdade devoradora da verdade, do eterno, do belo, do virtuoso, do sagrado e sobretudo de tudo o que é bom, vulgo Deus.

A beleza é uma janela para aquilo que deve ser preservado, o que pode e deve ficar para a eternidade e não apenas consumido e descartado. Se adotássemos uma perspetiva puramente utilitarista diríamos que o belo é inútil, que em primeiro lugar deve estar a funcionalidade de objeto. Pois esta é a apologética do modernismo que coloca nos locais de reverência, espaços contemplativos e altares pagãos atrocidades estéticas que desmoralizam e destroem de forma velada as aspirações estéticas inerentemente humanas.

Dom afonso Henriques

Escola Secundária de Castelo de Paiva

Rotunda São João da Madeira

Aquilo que é belo cumpre funções perenes que estão muito para além do tempo e espaço atuais. É um referencial para uma necessidade de conciliação como o mundo e uma moral, um espaço de consolação e refúgio onde até a tragédia tem oportunidade de ter significado procurando uma redenção. No belo está sempre a harmonia com a existência, a moral e a estética que é celebrada e não agredida. Na arte contemporânea são inúmeros os exemplos nos quais procuramos através do ruído desconstruir esse conceito de belo e por vezes até agredir o impulso estético fazendo como se este não fosse mais do que uma mera consideração púdica e exclusionária da criação artística. A verdade é que precisamos de separar o trigo do joio e separar o belo do grotesco, nesse processo algo pode ter de ser sacrificado. No entanto, importa que esse sacrifício aconteça para que continuemos a ter aspirações estéticas, para que não fiquemos cheios de ruído à nossa volta.

Do ponto de vista psicológico o que acontece é que nos tornarmos naquilo que veneramos, portanto importa venerar a virtude e a estética e não o grotesco e o banal. É bom que tenhamos aspirações e que ousemos fazer o que os antigos mestres faziam, colocar a nossa história e a história de toda a humanidade em cada pincelada ou a cada pedra que colocamos. A nossa atenção deve estar voltada para o belo que está pleno de metafísica, nos faz levitar e nos transporta além da nossa existência terrena. No ato de atender a um objeto ou conceito está pressuposta uma hierarquia de valor onde damos primazia percetiva a uma determinada informação, portanto façamos com que essa mereça verdadeiramente o nosso tempo e recursos. Precisamos de reclamar os novos templos contemporâneos e profanar os altares do grotesco, para que desta forma separemos o trigo do joio e voltemos a dar lugar ao que transcende o tempo e ao harmónico.

Acredito que esse renascimento artístico não seja visível durante o meu tempo de vida terrena, no entanto, gostava de me inspirar nos construtores de catedrais que me precederam. Lançaram as pedras para que o seu trabalho viesse a ser completado séculos depois e para que todos nós possamos ainda hoje perceber o assombro da beleza e que fundamentalmente me inspiram a escrever este texto.

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