Informação: Veneno ou Alimento ?

O ser humano é dotado da capacidade de conhecer a realidade e procurar a verdade das coisas. Somos dotados da capacidade de formular questões, pensar logicamente sobre os fenómenos e contemplar futuro, passado e presente nos nossos processos intelectuais. Temos um intelecto agente que produz pensamento e perceção, e um intelecto possível que é continuamente atualizado mediante o consumo de informação.
No nosso processo de atualização deste intelecto possível residem algumas questões que me parecem pertinentes para a nossa saúde mental: existirá uma estética para o consumo de informação ? Diria que sim, que existe.
Pensemos na nossa mente como um templo que está organizado seguindo determinados preceitos estéticos. A disposição dos altares, a forma como são adornados, o que lá é colocado, as cores que são utilizadas, enfim são muitos os elementos analisados para determinar como organizamos esse espaço. Importa também dizer que a forma como organizamos o espaço diz muito sobre a forma como criamos uma hierarquia na qual definimos o que merece mais a nossa atenção, o que está “no centro” e o que merece menos, o que está “nas laterais”. Considerando este processo torna-se desde logo óbvio que na economia que fazemos da nossa atenção devemos ser seletivos na forma como a empregamos e dedicamos ao consumo de informação. A atenção é um recurso finito, isto é, não é possível mobilizar a atenção para todos os objetos em simultâneo, é necessário selecionar.
Considerando isto percebemos que a informação não tem o mesmo valor e que um consumo de informação desregrado tem como resultado uma mente desequilibrada. Impõe-se então pensar sobre como podemos fazer a melhor dieta da informação.
Pensando sobre a dieta da informação, vejamos alguns pontos chave:
1- Nem toda a informação palatável é boa informação
Há vários tipos de informação que são extremamente apelativos e que no entanto não constituem boa informação. As nossas paixões, conceito da filosofia clássica que diz respeito aos impulsos emocionais da pessoa dirigidos a um objeto, são facilmente seduzidas e tentadas para um determinado tipo de informação. Vejamos o exemplo das redes sociais, apesar de existir conteúdo edificante nas mesmas note-se que grande parte do conteúdo está ligado a uma tentativa de despertar as paixões para propiciar o vício. As redes sociais usam frequentemente “gatilhos” que procuram capturar a nossa atenção através dos apetites das paixões. Vejamos como a sensualidade é extremamente disseminada no instagram, ou como o conteúdo fracturante é propagado em redes como o twitter e facebook, em inglês foi até criado um termo para o efeito, o rage bait (tática usada em redes sociais para gerar reações negativas e indignação) . Na música e na arte em geral podemos notar algo parecido, são usados certos gatilhos estéticos que nos cativam e seduzem, contudo o conteúdo da obra em si pode ser muitas vezes vazio, vulgar e desmoralizante. Nos vídeos, especificamente no youtube vemos sistematicamente o uso de uma edição ultra-dinâmica que elimina os silêncios e “tempos mortos” dos vídeos. Esta é uma forma de artificialmente diminuar a capacidade atencional do utilizador usando gatilhos visuais.
2- O cultivo de uma vida intelectual prepara o terreno
A nossa mente é também uma ferramenta de processamento de informação que requer uma inspecção e manutenção. Criar hábitos de leitura, de escrita, de oração, são alguns exemplos de rotinas que podemos criar para que tenhamos uma mente em bom funcionamento. Quando não cuidamos destas rotinas a tendência é para a uma certa preguiça intelectual onde há pouca curiosidade e disponibilidade para consumir informação edificante.
3- Usar um paradigma filosófico para filtrar e ter discernimento
É fundamental, para se ter discernimento no consumo de informação, perceber se a informação que vamos consumir vai ao encontro dos nossos valores e da nossa mundividência. Há casos em que prudentemente consumir informação do campo opositor ao nosso, pode ser uma mais valia, contudo esta não deve ser a regra. Se sabemos que um certo texto nos conta mentiras, não no sentido de ser um texto lírico mas no sentido ontológico, valerá verdadeiramente a pena ler ?
4- A boa informação exige trabalho
Há determinadas aprendizagens que para as realizarmos precisamos de perseverança, tempo e paciência. Tudo isto exige algum trabalho, ou seja alguma prática da nossa parte. A título de exemplo, ninguém aprende a tocar um instrumento musical sem alguma prática prévia. A leitura é outro exemplo em que necessitamos de cultivar uma certa resistência à frustração, pois neste campo há obras que podem ser densas e com alguma complexidade mas que ao mesmo tempo podem constituir valiosíssimas fontes de informação.
5- Escolher boas fontes
Quando vamos procurar um conselho de um amigo, procuramos normalmente alguém que consideramos uma referência para nós, alguém com um exemplo de vida em quem podemos confiar. Na escolha da informação a consumir importa também ter alguma diligência na forma como atribuímos credibilidade a determinadas fontes. São frequentes os exemplos de fontes “aparentemente” credíveis que não o são, e que apenas usam o prestígio e autoridade conquistadas para transmitir um verniz de credibilidade. No final de contas a autoridade máxima está na verdade, portanto a fonte será melhor tanto quanto aderir à verdade.
Muitas vezes ouvimos dizer que vivemos na era da informação, contudo nesta era da informação há muito ruído e é urgente aprendermos a filtrar o sinal. Sem esta filtragem estamos sujeitos cada vez mais a legar a nossa mente ao controlo dos algoritmos e a quem os programa. Importa que apliquemos estes princípios e outros para preservamos a nossa mente pois o seu estado será também produto deste consumo da informação. Quem controla os canais de informação, controla o mundo daí que se considere que a informação seja o novo petróleo.